Fonte: Rede Globo - Ação
Fenômeno que assola o semiárido é estimulado pelas condições climáticas
Antes de falar sobre seca, a gente tem que entender que existem duas definições importantes: tempo e clima.”
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Magna Soelma Beserra de Moura, da Embrapa
Semiárido (Foto: Divulgação / Marcelino Ribeiro) |
Com essa frase, a pesquisadora da Embrapa Semiárido Magna Soelma
Beserra de Moura, engenheira agrônoma que atua na área de
agrometeorologia, determina qual o maior responsável pela seca que
sempre assolou e é uma das maiores características do semiárido: o
clima. Designa-se como tempo as condições atmosféricas em um dado
momento, enquanto as condições climáticas são medidas em uma determinada
região durante um longo período. Para caracterizá-lo, é necessário um
estudo de pelo menos 30 anos.
No semiárido, na região de Petrolina, Pernambuco, faz 49 anos que o
clima vem sendo analisado. Já se sabe que a seca é um fenômeno climático
causado pela ausência de precipitação ou quando ocorre chuva em
quantidade insuficiente por um longo período. Nessas ocasiões, a
evapotranspiração, que compreende o somatório da evaporação do solo e da
transpiração das plantas, ultrapassa a precipitação pluviométrica,
provocando alterações no ciclo hidrológico e, consequentemente, na vida
das pessoas que dependem da água de chuva.
“Para caracterizar o clima, é necessário fazer a medida dos elementos
meteorológicos no tempo. Para caracterizar a seca, é importante analisar
os totais de chuva e compará-los com a normal climatológica. Há anos em
que chove mais e outros em que chove menos do que a média. Mas, uma
coisa é certa: no semiárido sempre ocorre seca, pois mesmo quando chove
em torno da média durante a estação chuvosa, que dura em média de quatro
a seis meses do ano, há um período complementar de seca com duração de
oito a quatro meses, quando não chove ou quando ocorrem valores de
precipitação muito baixos. Assim é a climatologia do nosso semiárido”,
explica Magna.
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Mapa do início da quadra chuvosa (distribuição
de chuvas em relação ao tempo) do Nordeste
do Brasil (Foto: Divulgação) |
Os períodos de chuva no Nordeste são variáveis (Mapa). Em Petrolina -
PE, onde se localiza a sede da Embrapa Semiárido, bem no centro da
Região Semiárida do Brasil, as chuvas costumam começar em novembro e
parar em abril; por outro lado, mais ao norte, em parte do Ceará e do
Rio Grande do Norte, o período chuvoso vai de janeiro a junho. Em termos
de valores, a precipitação média, dos últimos 49 anos em Petrolina, foi
de 550 milímetros de chuva por ano, sendo nesse período, já ocorreu um
ano em que choveram 1.023 milímetros (máximo) e outro em que se observou
apenas 187 milímetros.
“Quando a chuva cai em novembro, alguns poucos produtores começam a
plantar para que possam colher já no início do ano seguinte, isso quando
ocorrem chuvas médias e bem distribuídas ao longo dos meses. Mas quando
se verificam pequenos períodos de seca durante a estação chuvosa, que
são conhecidos como estiagem, podem resultar em redução da produção; e
pior ainda ocorre quando há seca, pois o produtor nem se anima a semear a
terra, e aqueles que se arriscam acabam perdendo toda a produção.
Há vários fatores que atuam para que haja precipitação pluviométrica.
No Nordeste, o principal sistema responsável pela quantidade e
intensidade das chuvas e a Zona de Convergência Intertropical - um
cinturão de nuvens formado pela confluência dos ventos alísios que se
desloca durante o ano nos sentidos norte e sul, sendo que quando se
encontra nesta mais ao sul promove a ocorrência de chuvas no Nordeste.
Temos ainda a influencia dos fenômenos El Niño e La Niña, que ocasionam
mudanças na circulação atmosférica, possibilitando mudanças na pressão e
no deslocamento das massas de ar. Em geral, a ocorrência do fenômeno El
Nino tem sido associada às secas no Nordeste, por outro lado, a La Nina
tem associação com chuvas acima da média. Além desses, a temperatura da
superfície do Oceano Atlântico também influencia a formação de nuvens, e
por conseguinte, as chuvas. "Quando mais quente está o Atlântico, maior
é a evaporação e a formação de nuvens, e por sua vez as precipitações”,
explica Magna.
O semiárido enfrenta a maior seca dos últimos 49 anos. Considerando o
ano hidrológico para a região de Petrolina, o volume pluviométrico
registrado foi de apenas 114 milímetros ocorridos entre novembro de 2011
e abril de 2012. É o maior evento de seca seguido da que assolou a
região em 1976, quando choveram 184 milímetros e em 1993, cujo total
precipitado foi de 187 milímetros, também considerando o período de
novembro a abril.
“Este ano tudo convergiu para que a chuva fosse mais escassa. Agora,
dificilmente pode ocorrer chuva entre junho e outubro; e se chover será
com intensidade baixa, na faixa de 11 milímetros mensais, como tem sido
observado na maioria dos anos. E isso é muito pouco para fornecer água
para o solo, para as plantas, para os animais e para a população.
Dificilmente os açudes e as cisternas ficarão abastecidos com água de
chuva”, lamenta Magna.
Além das cisternas, a Embrapa Semiárido trabalha com uma série de
outros programas e tecnologias para amenizar os efeitos da seca. As
barragens subterrâneas, as técnicas de captação de água de chuva in situ,
são algumas delas. Quando os produtores têm acesso a essas tecnologias
os impactos dos períodos de estiagem e de secas são reduzidos ou
postergados, tanto para as famílias quanto para as plantas e os animais.